Olá a todas de novo. Voltamos à caracterização do contexto em que estamos inseridas, a turma B do 4º ano da Escola Básica do 1.º Ciclo das Barrocas. O primeiro post que colocámos foi intencionalmente de caráter mais pessoal, todavia, percebemos as vossas dúvidas e reformulamos a caracterização, de modo a que possam ter uma perceção mais clara do contexto. Em breve, falaremos mais acerca das nossas reflexões acerca das vivências construídas e anexaremos uma descrição das atividades que temos feito ao nível dos projetos de intervenção-investigação.
A turma B do 4.º ano de escolaridade da Escola Básica do 1.º Ciclo das Barrocas insere-se no Agrupamento de Escolas de Aveiro, recentemente transformado em Mega-Agrupamento. Relativamente à escola que a turma frequenta, a Escola Básica do 1.º Ciclo das Barrocas, sublinhamos que foi construída em 2000, situando-se na freguesia da Vera Cruz, nas Agras do Norte em Aveiro.
A turma B é constituída por 20 crianças, 11 do sexo feminino e 9 do sexo masculino. É um grupo homogéneo ao nível etário tendo quase todas as crianças nove anos e apenas dez anos. As crianças são na maioria da cidade de Aveiro e as restantes estão divididas pelas freguesias mais próximas da cidade, sendo que apenas uma três vivem em concelhos vizinhos. Esta situação por vezes altera-se nos casos em que os pais estão divorciados e as crianças estão uma semana com o pai e uma com a mãe e, neste caso, vivem em sítios diferentes. Os pais das crianças trabalham em diversos setores sendo que os mais significativos são a educação, os serviços, a saúde, e o comércio. De salientar que 14% dos pais está desempregado, sendo num desses casos por invalidez. A nível da situação familiar, 13 crianças vivem com os pais que são casados, seis vivem alternadamente com o pai ou a mãe que estão divorciados e uma vive com a mãe e os avós, pois é uma família monoparental (família adotiva). Das 20 crianças, 70 % tem apenas um irmão, 20% não têm irmãos e apenas 10% têm mais que um irmão. Analisando a turma em termos das atividades que frequentam, concluímos que grande maioria frequenta todas as AEC’s, sendo que dois alunos não frequentam qualquer atividade. A maior parte não frequentam o ATL mas existe uma panóplia de atividades que ocupam as crianças fora da escola e do ATL, destacando-se a Natação e a Música. Apenas quatro crianças da turma não estão envolvidas em nenhuma atividade, o que faz indiciar que os alunos, de forma geral, têm pouco tempo livre.
No grupo vive-se um clima geral de bem-estar, segurança e entreajuda, possivelmente pela existência de crianças com Necessidades Educativas Especiais (NEE) que requerem mais cuidados e ajuda e, com as quais, alguns alunos do grupo têm uma relação próxima, quase de proteção. Das duas crianças com NEE, uma apenas está com a turma nos intervalos e nas sessões de expressões, biblioteca, passando o dia na Unidade de Multideficiência, onde usufrui de terapia da fala ocupacional e psicomotricidade.
No que respeita à relação das crianças com os adultos, nota-se que os alunos confiam na professora, sentindo-se confortáveis na sala. Todas as crianças têm a atenção da professora, podendo chamá-la sempre que necessitam e sendo motivados a participar. Contudo, a professora demonstra sempre maior preocupação pelos alunos com mais dificuldades em se concentrarem, alunos com problemas de comportamento ou dificuldades a nível cognitivo.
A iniciativa e a autonomia estão presentes na sala de aula, uma vez que a professora ouve sempre as opiniões e sugestões dos alunos e promove que sejam o mais autónomos possível. Isto denota-se na própria gestão das rotinas da sala, uma vez que não existe uma tabela de tarefas impressa. Assim que começa a aula, os alunos, por si, organizam-se pela escala das tarefas, sem precisarem normalmente de recorrer à ajuda da professora. A iniciativa e a autonomia estão também presentes ao nível das aprendizagens, uma vez que a professora incentiva que levem os manuais para casa para estudarem autonomamente e valoriza quando o fazem. Os alunos trazem também por sua própria iniciativa recursos para a sala de aula, nomeadamente, livros respeitantes a determinado tema. Geralmente é a professora quem decide o que se vai fazer na sala de aula, mas esta procura sempre ouvir os seus alunos, organizando o dia de acordo com os seus interesses e necessidades. Reage, portanto, com naturalidade às questões e sugestões dos mesmos. As crianças são responsabilizadas de diversas formas, sendo isso notório na relação que a professora desenvolveu com as mesmas. Esta é bastante genuína e procura sempre potenciar aquilo que possuem de bom, mas trabalhar para que ultrapassem as suas dificuldades. Quando existem compromissos, a professora procura que as crianças cumpram, desenvolvendo esse sentido de responsabilização em cada uma delas, pois, tal como afirmou, numa situação: “os alunos possuem direitos, mas também deveres”.
Ao nível da resolução de problemas, esta geralmente é feita tendo em conta o diálogo. A professora faz questão que as crianças percebam o porquê de determinadas coisas, opta também por ouvir ambas as partes, para que fiquem com o sentido de justiça, conversando, ao nível da turma, sobre qual a solução mais acertada para o problema.
Geralmente as crianças trabalham individualmente, contudo, é uma preocupação da docente que estas realizem mais trabalho a pares e trabalho de grupo, tendo potenciado que tal aconteça. Notamos que as crianças têm dificuldade em trabalhar em grupo, não percebendo as dinâmicas de funcionamento e não se conseguindo organizar devidamente. Algumas delas referiram-nos, durante a observação, que não gostam de trabalhar desta forma. Alguns alunos da turma são bastante competitivos, pelo que não lidam muito bem com o desacordo e a diferença de opiniões. As crianças opinam, muitas vezes, em partido dos seus amigos, não raciocinando sobre o que realmente pensam sobre determinada questão.
Segundo a professora da turma, não existe muita interação com os encarregados de educação, não só pelas próprias dinâmicas de funcionamento da escola, que “obrigam” que os pais deixem os filhos no portão da escola, mas também por ser difícil fazer essa articulação.
Em breve, daremos notícias quanto às nossas reflexões, incluindo também algumas atividades que já realizámos no âmbito dos projetos de intervenção-investigação.
Filipa e Sónia.